segunda-feira, 18 de abril de 2011

Cultura de Paz nas Organizações

     Por Patrícia Munick.


A Paz há muito que vem sendo tema de discussões nos diversos espaços da sociedade e nas mais variadas áreas do conhecimento. Porém a Paz, torna-se relativizada na medida que vivemos numa sociedade fragmentada, cheia de conceitos, preconceito, dogmas e interesses, gerando os mais diversos paradigmas sobre o que é paz, a exemplos de guerras que são deflagradas sob a justificativa de restaurar a paz. Uma paz sustentada no consumo, não raro egoísta, onde o Ter é o mote para o progresso e nesse caminho, o ser humano também se desfragmenta pois acha-se separado do todo, sem compreender que a separatividade é apenas uma aparência e sem entender o mecanismo de funcionamento da profunda sabedoria oculta que interliga todas as coisas.


Diante do caos que a cada dia vem se instalando na sociedade devido ao uso e abuso desenfreado dos recursos naturais e dos avanços tecnológicos pautados no consumo, na medida em que nos desenvolvemos intelectualmente e tecnologicamente, aumenta de forma proporcional o fosso da desigualdade entre aqueles que não tem acesso a esses bens. O desenvolvimento tem seu preço. Explode com isso a violência urbana que atinge também as cidades interioranas. Intensifica-se a fome e o desemprego nos países menos desenvolvidos. No campo da saúde, o nível de neuroses e estresse são cada vez mais altos, doenças que há poucos anos foram taxadas nas revistas como “da moda” como a depressão e a ansiedade, lotando as salas dos psicoterapeutas, hoje são consideradas epidemias que geram outras como a obesidade, um paradoxo diante do número de famintos do planeta. Por falar em planeta, nossa Terra agoniza com o lixo tecnológico, de embalagens descartáveis, sacolas plásticas, pneus, entre tantas outras formas de poluição, que são um problema sério também a ser enfrentado, prejudicando todo o ecossistema do globo.


O ser humano ainda tem muito a aprender sobre coexistência. Diante dos alarmes da ciência sobre a situação do planeta Terra e o futuro difícil que aguarda as gerações vindouras, caso a sociedade decida perpetuar os modelos de consumo e práticas sociais adotadas desde sempre, pouco restará neste planeta para os que vierem depois de nós se algo não começar a mudar. Porém, na outra face desta moeda erguem-se movimentos sociais empunhando várias bandeiras para defender a vida no planeta, a exemplo de ONGs ativistas e empresas que já buscam uma forma sustentável de produção e também de reciclagem além de programas sociais. Mas muito ainda precisa ser feito, pois, quando se fala de ecologia profunda não podemos ignorar o ser humano nesse processo. O ser humano desse novo planeta sustentável é aquele que precisa entender o que é coexistir, como explica Maria de Fátima Tavares: <em>“essa visão de integração e totalidade está presente nas mais diversas ciências, despertando para uma nova consciência, cujo predomínio da inclusão e da integração poderá dar um novo rumo a humanidade”</em> (TAVARES, 2007, p.36).



Essa nova perspectiva compreende o ser humano não como um ser fragmentado e separado do todo, mas interligado e nesse processo, faz-se preciso resgatar também sua inteireza, como afirma Tavares:
"religando sensação, intuição, sentimento, pensamento, intelecto e o espírito" (TAVARES, 2007, p.37), indo para além dessa uniformização coletiva pautada no consumo que além de alienante é anestesiante, como lembra Leonardo Boff em declaração no fórum social mundial em 2009: o oposto do amor não é o ódio. Mas a indiferença.

Esse pensamento nos leva para a seguinte questão:  
como levar o ser humano a um estado de paz de forma que este passe a ser um agente em seu meio ambiente cujas ações resultem em um coletivo saudável e consciente?

Quando se trata do individual no coletivo, recorremos a seguinte afirmação:
embora tendo o indivíduo como ponto de partida, o conhecimento se organiza e toma corpo como um fato social, resultado de interação entre indivíduos. Depende fundamentalmente do encontro com o outro(DAMBROSIO, APUD TAVARES 2007, P. 29).
(DELORS, 1996, p. 36).
 

Nesse sentido, voltamos a falar da paz mundial, pois, em tempos de globalização, só podemos compreender um estado de paz individual a partir dessa ótica, haja vista que graças a tecnologia, um fato que ocorre do outro lado do planeta nos atinge direta ou indiretamente, nos forçando a pensar dentro de um contexto planetário como esclarece Delors:
"Essa expansão da humanidade, num momento histórico em que a tecnologia encurta o tempo e o espaço, relaciona de modo cada vez mais estreito os diferentes aspectos da atividade mundial, o que confere, sem que necessariamente demos por isso, uma dimensão planetária a certas decisões. Nunca antes suas conseqüências, boas ou más, atingiram um tão grande número de indivíduos

É nesse contexto que a necessidade de se pensar a Cultura de Paz nas Organizações se insere, onde o
estado de paz seja fruto dessa compreensão emergente, em que o ser humano se percebe como um ser integral corpo, mente e espírito e nesse processo entende sua profunda inter-relação com o todo, resultando num coletivo saudável, ou seja, um ambiente de trabalho onde a competição dá lugar a colaboração e a participação, gerando um cotidiano produtivo, onde todos compreendem a importância do seu papel na organização e o impacto da mesma no meio ambiente social-econômico-natural, trabalhando assim, pelo bem-estar comum condizentes com um estado de paz.

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